“Sertão – se diz -, o senhor querendo procurar, nunca encontra. De repente, por si, quando a gente não espera, o sertão vem”, disse Guimarães Rosa. E é desse sertão roseano, brasileiro, universal, que brotou – e brota – a música de TIÃO CARREIRO, o “Deus carrancudo”, como o chamavam seus amigos.
Seu instrumento, a Viola Caipira, é o que há de mais genuíno na nossa música e seus toques e ponteados são os ecos de uma cultura imortal que nasce do coração e no coração do Brasil.
Em seu livro VIOLA CAIPIRA Roberto Nunes Corrêa nos conta um pouco de sua história entre nós, dizendo: “A viola foi introduzida no Brasil, no período da colonização, pelos jesuítas e colonos portugueses. Aqui, em contato com outras culturas, principalmente a indígena e a africana, ela adquiriu características próprias, condizentes com cada região, e com o grau de intensidade desta miscigenação.”
São estas características que fazem dela um instrumento genuinamente brasileiro e, podemos dizer, até mesmo regional, no sentido de existir tipos de violas diferentes em regiões diferentes como, por exemplo, a viola de cocho, a viola de cabaça e a de buriti, et., ctc. E é bom lembrar que existem também violas com diferentes números de cordas e com diversas afinações.
A viola, é um grande amor do povo brasileiro. É comum em qualquer cidade, seja do interior ou nas grandes capitais, vermos grupos, ou pessoas isoladas, perpetuando a grande arte de Tião Carreiro com a devoção religiosa que têm os verdadeiros artistas do povo.
E essa devoção se explica: Tião Carreiro consagrou a música do Sertão, dando a ela uma dimensão clássica, tornando-a conhecida nacional e internacionalmente. Por isto estamos prestando a ele esta homenagem. Para preservar a memória deste violeiro que Rosa Nepomuceno, em seu livro “Música Caipira, da roça ao rodeio”, considerou “…o mais famoso, o que deixou mais admiradores, o que nunca foi esquecido.”
Sua música, às vezes triste, às vezes cômica, às vezes crítica, forma um imenso painel desse Brasil que, durante muitos anos, deu as costas para o interior e que agora descobre que atrás de cada montanha, dentro de cada fábrica, nas ruas de cada cidade, no coração de cada um de nós, existe uma viola nos lembrando que somos brasileiros e universais.
Ouçam suas músicas. Ouçam sua viola e sua voz. Tião Carreiro é uma síntese de um País grandioso e cheio de mazelas, que todos amamos.
Sua obra gigantesca é a obra de um homem que bem poderia ter saído de uma página de Guimarães Rosa, com sua fala mansa: “… Eu queria estar-estâncias: dos violeiros, que tocavam sentimento geral.”
Salve Tião Carreiro. Salve viola brasileira.
“Esta viola vermelha
cor de bandeira de guerra
cor de sangue de caboclo
cor de poeira da terra”
pois sabemos que…
“…Esta viola vermelha
já fez tristeza acabar
fez muitos lábios sorrir
fez platéias delirar.”