Alguns pesquisadores descrevem o Lundu como vindo da África – de Angola ou Congo – sendo trazida ao Brasil pelos escravos. Outros dizem que ela é o resultado da fusão da música “branca” de origem européia e a “negra”, de origem africana. O certo é que, entre nós, era praticada por negros e mulatos e só no final do século XVIII aparece como canção.
A partir daí atravessa o oceano e nos salões nobres de Lisboa Domingos Caldas Barbosa faz sucesso cantando o Lundu acompanhado de sua viola de arame, hoje chamada caipira, e em 1798 publica sua coletânea VIOLA DE LERENA onde o gênero é citado. Nesta mesma época, começam a circular em Lisboa os primeiros lundus registrados em pautas musicais.
Mas a primeira referência que conhecemos sobre o Lundu data de 1780, numa carta do governador de Pernambuco ao Governo Português. A dança era descrita como licenciosa e indecente e chegou a ser denunciada ao Tribunal de Inquisição.
Mas, com a aceitação na Metrópole (Lisboa), o lundu também ganha a corte brasileira, no século XIX, cantada com o acompanhando do violão. Talvez tenha sido ela a primeira música negra aceita pela sociedade brasileira. Mas para isto foi transformada em canção e afastada da coreografia sensual que a caracterizava e que tanto irritava os moralistas da época.
Outro caminho que ela encontrou foi o da comicidade. Seus versos satíricos, maliciosos, cantando amores condenados, muitas vezes não eram assinados pelos autores que, com medo de perseguições, preferiam o anonimato. Mas outros, como Francisco Manuel da Silva – autor no Hino Nacional Brasileiro – que compôsLUNDU DA MARREQUINHA, assumiam suas obras, certamente mais brandas e enquadradas ao gosto da classe dominante.
Mas dentre todos os que cultivaram e (ou) participaram do gênero, o maior foi Xisto Bahia, ator, cantor e compositor nascido em Salvador em 5 de setembro 1841 e falecido em Caxambu, MG, em 30 de outubro de 1894. De sua autoria, Nara Leão gravouISTO É BOM, cujos versos maliciosos e brejeiros transcrevemos abaixo:
A saia da Carolina
Custou-me cinco mil réis
Levanta a saia mulata
Que eu dou cinco e dou mais dez
Isto é bom
Isto é bom
Isto é bom que dói
Mulata levanta a saia
Não deixa a renda arrastar
Que a renda custa dinheiro
Dinheiro custa a ganhar
Isto é bom
Isto é bom
Isto é bom que dói
Os padres gostam de moça
E nos casados também
E eu como rapaz solteiro
Gosto mais do que ninguém
Isto é bom
Isto é bom
Isto é bom que dói
Mulata quando eu morrer
Quando morrer
Morremos juntos
Eu quero ver como cabem
Numa cova dois defuntos
Isto é bom
Isto é bom
Isto é bom demais
O Lundu, este que pode ser considerado um gênero brasileiro, passou a ser cultivado também pelos “autores cultos” e, praticamente, confundido com a modinha. No século XX ele saiu de moda, substituído por outros gêneros afro-brasileiros.
Figura: Quadro Lundu, de Rugendas
Autor: Yassir Chediak